quinta-feira, 22 de abril de 2010

"Embriagai-vos!"


É necessário estar sempre bêbedo.
Tudo se reduz a isso; eis o único problema.
Para não sentir-des o fardo horrível do tempo,
que vos abate e vos faz pender para a terra,
é preciso que vois embriagueis sem cessar.
Mas - de quê?
De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.
Contanto que vois embriagueis
E se algumas vezes,
nos degraus de um palácio,
na verde relva de um fosso,
na desolada solidão do vosso quarto, despertades, com a
embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai-lhes
que horas são; e o vento, e a vaga, e a estrela, e o passáro,
e o relógio, hão de vos responder: -É a hora da embriaguez!
Para não serdes os martirizados escravos do tempo, embriagai-vos;
embriagai-vos sem tréguas!
De vinho, de poesia, ou de virtude, como achardes melhor.

Charles Baudelaire (1821-1867)